quarta-feira, 13 de março de 2013

Uma Conversa sobre Apicultura com Carlos Costa

O Carlos Costa é um dos meus melhores amigos, e uma das pessoas que mais respeito e admiro.

(A uma pessoa, que, em poucos meses, pega numa casa de granito em ruínas, sem soalhos, sem portas, sem janelas, sem telhado, sem água, sem saneamento, sem electricidade, e que, juntamente com a companheira, a Sandra Pinto da Costa, com duas crianças de colo, conseguem transformar essa ruína numa habitação com todos esses confortos, independente da rede pública, para já não falar em agarrar numa quinta totalmente envolta em silvados e transformá-la numa unidade capaz de alimentar a família e gerar excedentes, é de se lhe tirar o chapéu!)

O Carlos tem um dom especial, raro, para a apicultura. Não sei bem explicar, mas é como se conseguisse falar com as abelhas e elas lhe obedecessem.


Trabalhando com as abelhas, na Quinta do Penedo que Fala.

Também tem um dom especial para criar, e dar corpo aos constantes desafios que estou sempre a colocar-lhe à frente.
Vai daí, quando dava corpo ao projecto TimberBee, não hesitei em convidá-lo a juntar-se à aventura, e ele não hesitou em nela embarcar.

E, quando, face às várias solicitações para que criássemos mais uma turma para um workshop de apicultura, e face à impossibilidade de termos o Harald connosco, para mais um curso - o Harald, solicitadíssimo, numa cruzada pelas abelhas e pela apicultura responsável, por todo o país! - o Carlos foi a escolha natural para me acompanhar em mais outra aventura - formar novos apicultores!

Há dias, na Quinta do Penedo que Fala, onde o Carlos vive com a sua família, desafiei-o a partilhar como os leitores do blog Paredes em Transição alguma da sua experiência. O que vem a seguir, foi o que ele nos contou, ilustrado com algumas imagens que fui recolhendo, durante as nossas aventuras com abelhas.


"Desde os meus tempos de criança que me habituei à presença das abelhas. Comecei a conviver com elas, ainda mal sabia andar, pela mão do meu Pai, apicultor de meia dúzia de colmeias, mas com uma enorme devoção pela apicultura, e respeito pelos insectos, e sua função na Natureza.

Nunca percebi muito bem se o meu Pai teria as abelhas, essencialmente, para polinização, pois tinha um pomar muito grande, se pelo mel, ou pelo simples fascínio por estes insectos. Recordo-me de o ver passar horas e horas sentado a observá-las. Tirava apontamentos, fazia desenhos...

Uma abelha na Quinta do Penedo que Fala.

"Sempre tivemos mel em casa, que servia, não só para xaropes, mas também para adoçar o que quer que fosse: chá, leite, bolos…

Lembro-me de que o meu pai fazia as próprias colmeias, e fazia a sua manutenção. Lembro-me de ir-mos fazer crestas sem luvas, máscara ou outro utensílio similar. Lembro-me, também, dos tratamentos fitossanitários, 100% Naturais, que ele usava…

Mais tarde, tivemos que deixar aquela quinta, e passamos a viver num apartamento. O meu Pai foi ficando debilitado de saúde, e eu fui estudar para fora. Deixei de o acompanhar na lida das abelhas, e nunca mais vi essas colmeias. Nem sei se existem…

Certo é que as abelhas marcaram, de forma indelével, a minha infância.


Construindo colmeias na Quinta do Penedo que Fala. Terminando a caixa de agasalho de uma colmeia Warré.

"Algum tempo após a morte do meu pai, encontrei um antigo amigo dele, por acaso, numa feira agrícola. Este, sim, grande apicultor, de centenas de colmeias. Pouco tempo depois, dei por mim, a acompanhá-lo no maneio das colmeias. E com isso ia aprendendo. Era o que eu mais queria!

Paralelamente, reuni toda a documentação que consegui sobre apicultura, e estudava-a, profundamente. Muita dessa informação foi-me facultada por universidades do País Basco, onde vivi, durante algum tempo, e onde conheci gente muito interessante, ligada às abelhas.

Um dia – lembro-me, perfeitamente – fui surpreendido, na quinta onde vivo, com a minha família, por uma visita daquele amigo do meu pai. Trazia-me o meu diploma de apicultor – eram 4 colmeias! – para eu fazer as minhas próprias asneiras, dizia ele.

Com essas colmeias, logo no 1º ano, e fazendo as minhas próprias asneiras, obtive uma média de 80kg por colmeia, e fiz os meus primeiros desdobramentos.



Serrando tábuas para construir novas colmeias. Neste dia, tivemos a visita do jornalista Paulo Gomes, da revista "Voz do Campo".


"Hoje, sou completamente dependente do zumbido e frenesim que se sente próximo das colmeias. Um dia sem abelhas custa muito mais a passar!
Grande parte das “casas”das minhas abelhas fui eu que as fiz, umas mais toscas, as mais recentes mais bonitas, mas todas funcionais e “saudáveis”.


E aí vão as tábuas a caminho da oficina.



"Fruto da minha vontade de aprender sempre mais, integrei o primeiro curso de apicultura facilitado por “Paredes em Transição”. Não muito surpreendentemente, mesmo com a convivência, até então, com as abelhas, aprendi bastante! APRENDE-SE SEMPRE!!! Creio, mesmo, que o próprio Harald, o professor, saiu de cada aula a saber qualquer coisa nova!


Construindo colmeias na Quinta do Penedo que Fala. Mergulhando a madeira em óleo de linhaça a ferver, para melhor preservação do material.


"Desse curso surgiu, também, um grande projecto pessoal, juntamente com o meu amigo Miguel Leal (sou eu!), que me permitiu valorisar a minha experiência como apicultor e a minha criatividade e motivação. E aí está ele, a dar que falar: chama-se “TIMBERBEE”.


A nível pessoal, pretendo criar, para mim e para a minha família, um futuro diferente do que o que nos estão a tentar impingir. Prentendo desenhar um futuro sustentável, resiliente, e em pleno respeito pela Natureza.


Um abraço, Carlos, e obrigado por este belo relato!

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